Wes Anderson sem inspiração em O Esquema Fenício – FILMES por Rudney Flores

 


Cineasta cultuado quase na mesma medida em que tem detratores, o norte-americano Wes Anderson apresenta este ano O Esquema Fenício, produção que esteve na mostra principal do recente Festival de Cannes, no qual passou quase incólume, e que estreia nesta quinta-feira (29) nos cinemas do Brasil.

Anderson tem um estilo muito próprio, uma assinatura visível, marcada pela estética de cenários e construções de cenas, milimetricamente pensadas visualmente, com personagens excêntricos, estranhos ou desajustados, e histórias de tom quase sempre sentimental. Assim como Woody Allen (antes do cancelamento), o diretor também atrai para seus projetos diversos atores conhecidos, muitos deles parceiros de mais de uma produção.

O Esquema Fenício apresenta boa parte desses aspectos ao trazer a história do milionário Zsa-zsa Korda (o oscarizado Benicio Del Toro), uma figura para lá de controversa, que fez fortuna em negócios suspeitos, o que provoca a ira de diversos inimigos que vivem tentando matá-lo. E a trama, passada nos anos 1940, inicia-se exatamente em mais um fracassado atentado, que o faz refletir sobre sua vida. Em um plano mais celestial, a cada tentativa de assassinato que escapa, ele passa a ter visões que envolvem figuras religiosas, algumas delas vividas por Willem Dafoe, F. Murray Abraham e Bill Murray, já presentes em outros filmes do cineasta.

Na vida terrena, ele busca se aproximar da freira Liesl (Mia Threapleton, filha da atriz Kate Winslet), sua única filha em meio a outros nove filhos, e a qual escolhe para ser sua herdeira. Ao lado do tutor Bjorn (Michael Cera, de Scott Pilgrim Contra o Mundo), um personagem dúbio, pai e filha tentam resolver os problemas de um grande empreendimento no deserto da fictícia Grande Fenícia Independente Moderna, projeto que seria o grande legado de Korda, mas que é sabotado por agentes norte-americanos. A visita a aliados para pedir novos recursos para o investimento é outra oportunidade para Wes destacar mais atores parceiros de sua trajetória: Tom Hanks, Bryan Cranston, Mathieu Amalric, Jeffrey Wright, Scarlett Johansson e Benedict Cumberbatch.

Mas diferente dos festejados Três é Demais (1998), Os Excêntricos Tenenbaums (2001), O Fantástico Sr. Raposo (2009), Moonrise Kingdom (2012), O Grande Hotel Budapeste (2014, vencedor de quatro Oscars, possivelmente seu auge), Ilha dos Cachorros (2018) e A Crônica Francesa (2021), o novo trabalho assinado pelo próprio cineasta ao lado de Roman Coppola, parceiro constante nos últimos anos, dificilmente decola. O Esquema Fenício revela um certo humor negro – presente já na primeira cena em um avião, com um corpo dilacerado – quase nunca visto nas produções do diretor, e vai apresentando sequências poucos inspiradas e cansativas, sem maiores destaques no geral – o melhor é a divertida participação de Michael Cera, apesar de seu personagem lembrar outros inseguros que já viveu em outras produções.

Colocada ao lado do filme anterior, o apenas agradável Asteroid City (2023), a nova produção confirma um momento de baixa na carreira de Anderson. A se conferir e esperar que essa sequência não se mantenha, e que o cineasta volte a encantar novamente o espectador. Cotação: Regular.

 

Trailer de O Esquema Fenício:

 


 

 

Crédito da foto: Universal Pictures Brasil