Jesuíta Barbosa brilha em Homem com H – FILMES, por Rudney Flores

 


 Um dos maiores artistas da música brasileira, Ney Matogrosso é tema da cinebiografia Homem com H, do diretor paulistano Esmir Filho, uma das principais estreias da semana nos cinemas do país. Com 83 anos de vida e mais de 50 anos de carreira musical, Ney recebe ainda em vida uma homenagem à altura de sua importância para a cultura nacional.

As chamadas biopics voltaram a ganhar força nos últimos anos, tanto no Brasil como no cinema hollywoodiano – Gal Costa, Sidney Magal, Mamonas Assassinas, Claudinho e Buchecha, Freddie Mercury, Elton John e Bob Dylan foram alguns dos artistas a terem suas vidas contadas nas telas recentemente. Muitos desses filmes têm apresentado recortes de determinados períodos da trajetória dos retratados, mas Esmir Filho, também roteirista de Homem com H, optou por cobrir um longo período da vida de Ney Matogrosso, mas trazendo momentos determinantes, focados principalmente em sua sexualidade, nas suas ousadias como artista e o impacto que teve na música brasileira.

A parte artística destaca o curto mas arrebatador período de sucesso do grupo Secos & Molhados, que Ney – vivido visceralmente por Jesuíta Barbosa – integrou ao lado dos músicos João Ricardo e Gérson Conrad no início da década de1970, e que lançou dois discos com clássicos marcantes como “Sangue Latino”, “Rosa de Hiroshima”, “O Vira” e “Flores Astrais”. Na sequência, as diversas fases de artista solo e suas transformações visuais –  a maioria provocativas e desenvolvendo toda a sensualidade que é sua marca registrada até os dias atuais –, e também as musicais, passando por diversos gêneros, como a MPB, o bolero, o pop, o rock e até o forró da música que dá título à produção.

Na parte pessoal, há o tumultuado e até violento relacionamento com o pai (Rômulo Braga, de Carvão), militar que desde cedo não aceitava sua sensibilidade e orientação sexual, além dos principais envolvimentos amorosos da vida de Ney, com o cantor Cazuza (Jullio Reis) e com o médico Marco de Maria (Bruno Montaleone), ambos vítimas fatais da epidemia da aids nos anos 1980 e início dos ano 1990. A sexualidade do artista também recebe muito destaque com diversas cenas mais quentes, mas sem nada explícito, pois a produção buscou um público mais amplo (a classificação indicativa do filme ficou em 16 anos).

O destaque maior de Homem com H é mesmo a confirmação do grande talento de Jesuíta Barbosa, que com sua interpretação impactante passa a ser o novo nome do primeiro time dos atores nacionais do cinema – ao lado de Wagner Moura, Lázaro Ramos, Matheus Nachtergaele, João Miguel e Irandhir Santos. Revelado no longa Tatuagem (2013), Jesuíta atinge novo patamar vivendo Ney Matogrosso, praticamente mimetizando o artista em seus trejeitos, olhares e sensualidade, mas também incluindo algo muito pessoal na atuação – só não tinha como atingir a rara voz de contralto de Ney, o qual canta verdadeiramente nas cenas que o ator dubla.

Esmir Filho também consegue alcançar maior expressão com a produção, chegando ao grande público depois de duas décadas de carreira. Revelado em festivais nacionais de cinema no início da década de 2000, nos quais seus curtas-metragens receberam várias premiações, o diretor realizou na sequência bons longas-metragens, mas que não atingiram grande audiência, como Os Famosos e os Duendes da Morte (2009) e Alguma Coisa Assim (2017) – ambos de temática jovem, como seus curtas –, além do estranho e enigmático Verlust (2020). Homem com H comprova o amadurecimento do ainda jovem cineasta e roteirista – tem 42 anos – e cria boas expectativas para a sequência de sua carreira. Cotação: Ótimo.

 

Trailer de Homem com H:

 


 

 

Crédito da foto: Paris Filmes