Peça Solo dos Mares retorna para curta temporada no Teatro Lala

 


Após temporada de sucesso em junho, o espetáculo Solo dos Mares retorna aos palcos curitibanos para mais dez apresentações no Teatro Lala, entre 13 e 28 de agosto, com entrada franca. A estreia, em junho, ocorreu no Novelas Curitibanas e foi seguida por uma série de apresentações em comunidades quilombolas paranaenses. As duas primeiras sessões acontecem nesta quarta (13) e quinta-feira (14), sempre às 21 horas. Nas duas semanas seguintes, nos dias 20, 21, 27 e 28 de agosto, serão dois horários por dia: às 15 e 21 horas.

A partir da história de vida e luta de João Cândido Felisberto, herói injustiçado da Revolta da Chibata, a Isidoro Diniz Produções e a Cia Nossa Senhora do Teatro Contemporâneo apresentam o espetáculo Solo dos Mares. A nova montagem consolida a parceria entre Cesar Almeida e Isidoro Diniz, que, no ano passado, conquistaram sucesso com a peça O Bom Crioulo. 

Reconhecido por sua pesquisa dedicada ao teatro negro e à cultura afro-brasileira em Curitiba, Diniz conduz o projeto que resgata uma importante página da história brasileira, trazendo à cena a força e a resistência de um líder que desafiou a opressão e marcou a luta por justiça social.

A peça marca a primeira parceria entre a Isidoro Diniz Produções e o dramaturgo, pesquisador da cultura afro-brasileira e teatro negro brasileiro, Salloma Salomão que, junto à professora doutora Ione Jovino, desenvolveram a dramaturgia de Solo dos Mares. Criado inicialmente na pandemia, o espetáculo ganhou formato ao vivo, de maneira presencial.

O texto evidencia a invisibilidade dos nossos heróis pretos, como João Cândido, que foi um líder nacional conhecido, mas não reverenciado. Legado ao ostracismo e a uma vida penosa, tendo sua representatividade retirada da história. Por meio de um “solo manifesto”, são narradas situações cotidianas apresentando o racismo estrutural que persiste até os dias atuais com tantos outros líderes nacionais, apontando também outras personalidades que não foram reverenciadas, como Machado de Assis, Clóvis Moura, Carolina de Jesus, Grande Otelo, Clementina de Jesus, Abdias Nascimento, Irmãos Rebouças, entre tantos outros.

Ao mesmo tempo, a ideia é traçar um paralelo entre a história do João Cândido Felisberto com a história do Benedito Isidoro Diniz e criar um elo entre o João, que se tornou marinheiro e nasceu em 1880, em uma fazenda no interior do Rio Grande do Sul e o Benedito, que se tornou artista e nasceu em 1958, em uma fazenda no interior do Paraná. Ambos homens de luta e resistência para superar todas as adversidades que a condição de pretos impõe.

Após sua liderança na Revolta da Chibata e a sua prisão, João Cândido foi perseguido como rebelde, punido e condenado pela instituição do estado, impedido de reconstruir sua vida com dignidade e poder usufruir da sua expertise para se tornar um grande homem da Marinha Mercante, com visibilidade, reconhecimento e prosperidade. 

Benedito passa por processo semelhante (e recorrente entre pessoas pretas) por conta do racismo estrutural, institucionalizado no país. No entanto, suas conquistas não impediram que ele não passasse pelo mesmo processo de exploração, segregação, discriminação e racismo que tantos Beneditos, Marias, tantos artistas como as atrizes Odelair Rodrigues e Geisa Costa, os compositores Lápis e Itamar Assumpção passaram e passam até os dias de hoje.

Solo dos Mares quer mostrar que, após tantas revoltas e lutas e apesar de muitas conquistas a longo prazo do movimento negro e de diferentes líderes da luta antirracista, ainda se continua no mesmo ponto de negação, pois os pretos não alçaram seu devido lugar através de sua valorização e reconhecimento que todos esses talentos merecem. Nesse paralelo entre passado e presente, evidencia-se a contemporaneidade do tema, para apresentar a força do racismo estrutural que até a atualidade oprime e impede a ascensão de pretos e pretas na sociedade, independente da atuação dessas personalidades e do espaço geográfico que atuam.


Serviço: 

Solo dos Mares

Teatro Lala (Rua Treze de Maio, 629 – São Francisco)

De 13 a 28 de agosto, às quartas e quintas-feiras; dias 13 e 14 às 21h; dias 20, 21, 27 e 28, às 15h e 21h.

Entrada gratuita. Ingressos disponíveis na bilheteria do teatro, a partir de uma hora antes das sessões.

Escolas interessadas, entrar em contato via WhatsApp (41) 99235-4389.


Crédito da foto: Kraw Penas