Salve-me do Desconhecido traz momento reflexivo de Bruce Springsteen – FILMES, por Rudney Flores

 


 As cinebiografias de astros do rock continuam em alta em Hollywood. Nos últimos anos, o público pôde conferir nas telas produções baseadas em Freddy Mercury (Queen), Elton Jonh, Elvis Presley e Bob Dylan. Chega agora a vez do “Boss” Bruce Springsteen, um dos maiores músicos vivos dos Estados Unidos, que é retratado em Springsteen – Salve-me do Desconhecido, de Scott Cooper (Coração Louco), uma das estreias da semana nos cinemas brasileiros.

Também roteirista, o diretor baseou o filme no livro Deliver Me from Nowhere: The Making of Bruce Springsteen's Nebraska, do jornalista Warren Zanes, ainda não lançado no Brasil. A obra fala das gravações de Nebraska, sexto álbum do estúdio do músico, lançado em 1982, considerado um dos melhores de sua carreira. Dessa forma, Cooper opta por fazer um recorte de um breve, mas importante período da vida de Springsteen – vivido por Jeremy Allen White, premiado ator da série O Urso –, destacando também sua difícil relação com o pai durante a infância.

No início dos anos 1980, Bruce Springsteen já era um artista consolidado na América, chegando alto nas paradas com o disco The River. Ao final da turnê do álbum, em 1981, o músico aluga uma casa em Long Branch, sua cidade natal em Nova Jersey. Ele compra um equipamento de gravação simples de quatro canais e começa a registrar novas músicas, influenciado por duras memórias familiares e pelo filme Terra de Ninguém (1973), de Terrence Malick, que apresenta a história real de um casal de jovens envolvido em uma famosa série de assassinatos nos Estados Unidos. O Boss está esgotado emocionalmente e sentindo a pressão pelo sucesso alcançado e pelo desejo da gravadora por um novo disco, fatores que também influenciam na produção do trabalho, que será marcado ainda por suas tradicionais canções de tom social, retratando a época em que são realizadas.

Cooper conta com um ótimo trabalho de White em um filme muito introspectivo por sua temática, em certos partes sombrio, marcado por muitos momentos de silêncio e reflexão do personagem central. Para completar, a produção retrata um tema que é muito atual, a saúde mental dos artistas, que está começando a ser mais debatido. Ao contrário de outras cinebiografias, Salve-me do Desconhecido não se baseia em grandes números musicais ou mesmo em um protagonista que se parece fisicamente com o homenageado.

Longe dos casos de possessão, em que um ator mimetiza o biografado, White se fixa em pequenas nuances para viver Springsteen e se sai muito bem, inclusive quando canta em poucos momentos da trama – o melhor acontece na visceral interpretação de “Born in the USA”, canção que foi registrada no período do disco Nebraska, mas que só foi lançada dois anos depois no álbum homônimo, que tornou o Boss um astro mundial, juntamente com sua participação na gravação da música “We Are the World”, realizada em prol dos famintos na África pelos maiores artistas dos Estados Unidos, em 1985.

Em uma época em que é quase necessário tornar tudo um espetáculo grandioso, Cooper vai na contramão e faz uma escolha ousada, que teve algumas restrições da crítica norte-americana e não atraiu muitos espectadores na semana de estreia do filme na América. Como Bruce Springsteen não tem o mesmo alcance no Brasil, Salve-me do Desconhecido pode ser melhor apreciado por aqui em sua essência, sem cair em idolatrias e grandes expectativas. Cotação: Ótimo.

 

Trailer de Springsteen – Salve-me do Desconhecido:

 


 

Crédito da foto: Macall Polay