Praticamente um gênero do cinema, os filmes em que um dos personagens de um casal têm uma doença terminal geralmente são produções que buscam as lágrimas do espectador com tramas sofridas ou de superação, além de recheadas de clichês. O diretor irlandês John Crowley (Brooklyn) consegue se salvar de boa parte das armadilhas dessa temática e apresentar Todo Tempo Que Temos, uma das estreias da semana nos cinemas do Brasil, como uma quase comédia romântica delicada.
No centro da história,
ambientada em Londres, há o casal Tobias (Andrew Garfield) e Almut (Florence
Pugh), na casa dos trinta e poucos anos e que precisa lidar com o câncer
recidivo dela. Ele trabalha no setor de informática de empresa de uma famosa marca
de cerais, enquanto ela é uma chef em ascensão. Mas os momentos dessa união são
embaralhados pelo roteirista Nick Payne, que espertamente criou uma trama não
linear para o casal.
Dessa forma, a história vai e
volta no tempo diversas vezes, sem avisos, mostrando a inusitada forma como
Tobias e Almut se conheceram, ambos saindo de relacionamentos que não deram
certo, o desenvolvimento de seu romance, a primeira aparição do câncer,
a decisão de ter ou não uma criança, a gravidez e o nascimento da filha,
voltando ao período mais duro do novo combate à doença. É uma boa saída para ganhar
a atenção e conquistar a audiência, que vai sendo surpreendida pela bonita
história de amor do casal.
O destaque do filme são as
atuações dos protagonistas, mostrando a melhor qualidade do cineasta irlandês,
a direção de atores – são dois dos melhores talentos jovens de Hollywood
atualmente, ambos já indicados ao Oscar. O centro das atenções fica com a Almut
de Florence – que concorreu à estatueta dourada de atriz coadjuvante pela nova
versão de Adoráveis Mulheres. É ao redor dela que a trama gira e são suas
decisões que interferem na relação do casal.
Mais conhecida no momento
como a anti-heroína Yelena Belova, a irmã mais nova da personagem Viúva Negra
nos filmes e séries da Marvel, Pugh mostra versatilidade e defende mais um
personagem forte e com nuances variadas, como havia feito no terror Mindsommar –
O Mal Não Espera a Noite e também na breve e intensa participação em
Oppenheimer. Ela é mais uma candidata à indicação na maior premiação do cinema,
em uma temporada em que há varias atrizes se destacando, como Nicole Kidman (vencedora
no Festival de Veneza por Babygirl), Angelina Jolie (Maria Callas), Demi Moore (A
Substância), Juliana Moore e Tilda Swinton (ambas por O Quarto ao Lado), além da brasileira
Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui).
E a tão necessária química
entre os personagens centrais, sempre exigida em filmes mais românticos, aparece
de forma perfeita com Garfield – já nomeado duas vezes ao Oscar como ator
principal, pelo drama Até o Último Homem e o musical thick thick... BOOM! Ele
defende novamente um personagem sensível, o que está se tornando sua marca. A
persona de Tobias não é tão desenvolvida como a de Almut, mas mesmo assim o
ator consegue entregar um trabalho agradável e que emociona o público.
Todo Tempo Que Temos não é
perfeito e, em certos momentos, não consegue escapar dos clichês do gênero. Mas
o tom leve na maior parte do filme arranca algumas boas risadas em várias
sequências, e também possíveis lágrimas na parte final. Cotação: Bom.
Trailer de Todo Tempo Que
Temos:
Crédito da foto: Divulgação Imagem
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