Obra de Vinicius retorna na animação A Arca de Noé – Filmes, por Rudney Flores

 


Até o início dos anos 1980, uma das principais diversões da criançada no Brasil era assistir desenhos animados na tevê de casa. Mas a programação infantil da época também destacava alguns programas de muita qualidade, como o importado Vila Sésamo, a adaptação das histórias de Monteiro Lobato no Sítio do Pica-Pau Amarelo, a TV Globinho de Paula Saldanha, os programas em que Daniel Azulay ensinava a fazer brinquedos simples, entre outros. A Rede Globo também investia em especiais infantis no horário nobre, e um dos mais premiados deles foi Vinícius para Crianças – A Arca de Noé, inspirado no disco homônimo lançado por Vinícius de Moraes e lançado em 1980, mesmo ano da morte do poeta e compositor.

Nascido em 1968, o diretor Sérgio Machado (Cidade Baixa), que está lançando nesta quinta-feira (7) a animação A Arca de Noé, também baseada na obra do Poetinha, certamente foi uma das crianças que curtiu e se divertiu com o programa estrelado por grandes nomes da música brasileira, como Chico Buarque, Milton Nascimento, Toquinho, MPB-4, Ney Matogrosso, Boca Livre, Fábio Jr., entre outros, que interagiam com a menina Aretha (apresentadora da atração e filha da cantora Vanusa e do cantor Antônio Marcos) em canções como “A Arca de Noé”, “O Pato”, “A Casa”, “Corujinha” e “A Porta”.

Há alguns anos, Machado, que divide a direção do longa-metragem com Alois Di Leo, abraçou a ideia de Susana de Moraes (1940-2015), filha de Vinicius que sonhava em levar para as telas a criação do pai. E embarcou no projeto de A Arca de Noé, que tem coprodução dos estúdios de animação Symbiosys, da Índia, e CMG (Cinema Management Group), dos Estados Unidos, e que já foi comercializado para mais de 70 países. O cineasta também assina o roteiro (com a colaboração de Heloisa Périssé e Ingrid Guimarães), que traz a história de dois ratinhos malandros, Vini (voz de Rodrigo Santoro) e Tom (voz de Marcelo Adnet), que vivem na época do dilúvio e precisam burlar a regra de apenas um par de cada espécie, formado por uma fêmea e um macho, para entrarem juntos na Arca de Noé e fugir do aguaceiro que irá destruir o planeta.

Os demais personagens principais são a ratinha Nina (Alice Braga), o leão Baruk (Lázaro Ramos) e a barata Alfonso (Gregorio Duvivier). O supertime de dubladores ainda destaca Heloisa Périssé, Ingrid Guimarães, Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank, Eduardo Sterblitch, Marcelo Serrado, Débora Nascimento, Babu Santana, Monica Iozzi, Seu Jorge, Chico César, Luis Miranda, Leandro Firmino, entre outros.

A qualidade da animação está no mesmo patamar dos grandes estúdios da atualidade e emoldura uma aventura muito divertida, com ótimo ritmo. Os animais mais poderosos tomam conta da arca, mas são combatidos pelos bravos ratinhos, que usam de várias artimanhas para enganá-los. Para definir o controle do barco, decide-se por um concurso musical, dando espaço para o resgaste de algumas das canções clássicas da obra de Vinicius de Moraes, todas em boas e novas versões – “O Leão”, com Santoro e Adnet – está faz parte de A Arca de Noé 2, disco e especial lançados em 1981; “Corujinha”, com Adriana Calcanhotto; e “O Pato”, com Russo Passapusso, da banda Baiana System.

Santoro e Adnet se sobressaem na dublagem, juntamente com Lázaro Ramos, que torna impagável o leão Baruk com seu palavreado pomposo à la Odorico Paraguaçu, personagem da novela O Bem-Amado, de Dias Gomes. Um desenho para todas as crianças, mas que deve emocionar mesmo os pais mais nostálgicos, que cresceram com as canções e poemas de Vinicius, belamente interpretados pelo primeiro time da MPB. Cotação: Bom.

 

Trailer de A Arca de Noé:

 


 

Crédito da foto: Divulgação Imagem Filmes