Coogler mostra sua visão da América em Pecadores – FILMES, por Rudney Flores

 


Consagrado por Pantera Negra, um dos principais filmes do Universo Compartilhado da Marvel, e também pelos dois primeiros filmes da franquia Creed, o diretor Ryan Coogler volta ao cinema com Pecadores, principal estreia da semana nos cinemas brasileiros. O filme marca mais uma parceria do cineasta com o ator Michael B. Jordan, presente nas citadas produções anteriores e que foi iniciada com Fruitvale Station – A Última Parada. Assim como este trabalho de 2013, Pecadores se revela um projeto muito pessoal de Coogler.

Inspirado por histórias familiares de um avô e de um tio, o diretor, que também assina o roteiro do filme, trata de diversos temas como música negra e o racismo na América, além do espiritual e das culturas africanas. Ele adiciona a tudo isso ainda o elemento terror, com a presença de vampiros.

A trama é ambientada em apenas um dia em 1932, no Delta do Mississipi, no sul dos Estados Unidos, um local marcado ainda na época pelo segregacionismo. No centro da história estão os irmãos gêmeos Elijah e Elias Moore – ambos interpretados por Jordan em ótimo trabalho, definindo bem as características quase opostas de cada personagem –, também conhecidos pela alcunha de Fumaça e Fuligem. Temidos na região, eles retornam após um período na violenta Chicago dos tempos de Al Capone. Com muitos recursos em mãos, eles têm a ideia de montar um clube de blues para que os negros da cidade possam celebrar a liberdade e se divertir bebendo, comendo e ouvindo boa música, após o duro trabalho diário nos campos de algodão do delta.

O primeiro terço da produção apresenta os demais personagens, alguns deles convocados pela dupla para a empreitada do clube, como seu primo Sammie (a revelação Miles Caton, músico estreando nas telas), um jovem mestre no violão de blues, e o músico Delta Slim (Delroy Lindo, de O Nome do Jogo), chamados para tocarem na nova casa; e o casal chinês Bo (Yao) e Grace Chow (Li Jun Li) para ajudarem a organizar o local, uma serraria antiga. Também se destacam no elenco os interesses amorosos dos irmãos: Mary (Hailee Steinfeld, de Bumblebee), ligada a Fuligem, e Annie (Wunmi Mosaku, de Deadpool & Wolverine), que chegou a ter uma filha com Fumaça, a qual morreu ainda bebê. O trabalho mal remunerado e as diferenças sociais no Mississipi são algumas das características bem definidas por Coogler nessa parte.

O segundo terço, com a festa no clube, traz o melhor do filme, destacando a música (a trilha sonora geral do filme é ótima) e também o sensual. Diferentes culturas e épocas – chegando até os dias atuais – atravessam uma sequência sensacional iniciada com o blues de Sammie e que termina com o fogo. Mas é exatamente a força dessa música, capaz de abrir portas de outros mundos – boas ou ruins, de acordo com a cultura africana –, é que desperta os vampiros liderados por Remmick (Jack O’Connell), que cercam o clube, iniciando o arco final de Pecadores. A quebra abrupta para o gênero terror com vampiros lembra muito o filme Um Drink no Inferno (1996), parceria do diretor mexicano com o cultuado Quentin Tarantino, mas com mais significados, notadamente sobre a violência no mundo.

O filme ainda reserva duas cenas pós-créditos, a primeira com Buddy Guy, lenda do blues e do rock, e a outra com Miles Caton – vale a pena o espectador ficar até o final para conferir. Pecadores é o melhor trabalho da carreira de Ryan Coogler, superior a muitos candidatos ao Oscar deste ano, por exemplo. A conferir se a produção irá sobreviver na mente dos votantes da Academia até o próximo ano, pois mereceria indicações em várias categorias. Cotação: Ótimo.

 

Trailer de Pecadores:

 


 

Crédito da foto: Warner Bros. Pictures Brasil