Premiado cineasta Bong Joon Ho retorna com Mickey 17 – FILMES, por Rudney Flores


 

Cinco anos após a consagração no Oscar com Parasita, o diretor sul-coreano Bong Joon Ho marca seu retorno com o aguardado Mickey 17, principal estreia da semana nos cinemas brasileiros. A produção que mistura ficção científica, humor, aventura e crítica social é baseada na obra Mickey7, do escritor Edward Ashton.

A trama, adaptada pelo próprio cineasta, é ambientada nos 2050, quando o fracassado e bilionário político norte-americano Kenneth Marshall (Mark Ruffalo, de Pobres Criaturas) decide montar uma colônia no fictício planeta Nilfheim, para o qual leva seus fanáticos seguidores. Quem também embarca na viagem é Mickey Barnes (Robert Pattinson, o mais recente Batman), que está fugindo de agiotas por causa de uma dívida arrumada por seu sócio Timo (Steve Yeun, de Minari – Em Busca da Felicidade).

Para acelerar seu processo de aceitação e embarcar na nave do projeto, Mickey aceita ser um “descartável”, uma pessoa que será cobaia de testes na colônia, sendo “reimpresso” cada vez que morrer – Timo, sempre mais esperto, também consegue embarcar, mas como piloto de veículos no planeta. Depois de várias experiências e mortes, Mickey está em missão em sua versão 17, quando sofre um acidente, mas não morre. Ao voltar à nave-mãe, ele se depara com a versão 18, impressa porque todos imaginavam que a anterior não havia sobrevivido. Há uma lei que não permite a existência de mais de um clone ao mesmo tempo e Mickey 17 e Mickey 18 terão que lutar para sobreviver.

Com mais de uma centena de milhões de dólares investidos pela Warner e o direito ao corte final de sua obra – um raro poder concedido a pouquíssimos nas últimas décadas em Hollywood, neste caso a quem marcou história no comando do primeiro filme de língua não inglesa a vencer a maior premiação do cinema – Joon Ho fez o filme que desejava sem interferências. Para isso, trouxe influências de trabalhos antigos. Estão lá os estranhos alienígenas, chamados rastejantes, que remetem às criaturas de O Hospedeiro e Okja; o planeta gelado e as disputas sociais, um ambiente que se assemelha ao de Expresso do Amanhã (baseado na HQ O Perfuraneve, de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette); e os questionamentos sociais de Parasita, mas todos bem mais definidos, sem as nuances do vencedor de quatro Oscars (melhor filme, diretor, roteiro original e filme internacional).

Mais atual do que nunca – apesar de o filme ter sofrido vários atrasos em seu lançamento –, o poderoso Marshall é quase um amálgama do presidente norte-americano Donald Trump e de Elon Musk, bilionário que tem cargo e papel mais do que atuante em seu governo – mas também pode ser refletido nos vários políticos populistas e de extrema-direita espalhados por diversos países nos dias de hoje. Interpretado por Ruffalo em uma atuação bem caricatural, o político é um panaca egocêntrico, mas carismático, muito influenciado pela esposa Ilfa (Toni Collette, de Jurado Nº 2). Ambos têm valores altamente contestáveis que desejam implantar em Nilfheim.

Mas quem se sobressai mesmo é Pattinson, que está ótimo em suas interpretações das últimas versões de Mickey, completamente opostas, o inseguro e tímido 17 e inquieto, direto e corajoso 18. Além da própria vida, ambos disputam a atenção da namorada Nasha (Naomi Ackie, de Pisque Duas Vezes). O personagem é a representação da massa de manobra, das pessoas que não são mais do que números, “objetos descartáveis” para que detém o poder em um mundo cada vez mais corporativista.

Estranho em diversos momentos, com momentos de humor contido, Mickey 17 poderia ser um pouco mais enxuto (tem 2h19). A produção marca um bom retorno do cineasta sul-coreano, mas sem um grande brilho. Cotação: Bom.

 

Trailer de Mickey 17:

 


 

Crédito da foto: Warner Bros. Pictures Brasil