Peça Um Corpo Preto no Chão estreia no Teatro de Bolso

 


A linha tênue entre a realidade e a ficção pelo viés artístico é o ponto de partida para explorar a essência geracional em Um Corpo Preto no Chão, espetáculo estrelado pelos artistas Vini Sant e Allan Brasileiro, com direção de Kenni Rogers. A montagem, que utiliza o metateatro como fonte de construção para dar voz às memórias e lembranças dos atores, ganha temporada entre os dias 14 e 25 de maio, de quarta-feira a sábado, sempre às 20 horas, e aos domingo, às 19 horas, no Teatro de Bolso, no bairro Hugo Lange. A entrada é gratuita e com acessibilidade em libras em todas as sessões.

Da pele preta às recordações, Um Corpo Preto no Chão é um impacto verossímil sobre memórias familiares. Mas nasce a partir da entrega corporal, com os atores narrando histórias distintas que convergem sobre dois artistas gays que interpretam suas próprias trajetórias. Porém, em uma dramaturgia com percursos singulares, permeados pela arte do encontro em uma realidade periférica brasileira. 

“Não é um espetáculo autobiográfico. Foram necessários meses de troca entre os atores para que de fato pudéssemos intervir nesta construção”, destaca o diretor Kenni Rogers. “Foi necessário experimentar para que o público também possa se identificar. As cenas não são fechadas. Então, a identificação nasce dessa provocação de dois corpos pretos, artistas e gays, que trazem suas memórias, sonhos e vivências presentes na dramaturgia e suas respectivas experiências”, continua. 

Originalmente, a proposta da peça nasce de forma imagética. Segundo o multiartista Vini Sant, idealizador do projeto, a ideia foi concebida entre ele e Allan durante um longo processo. Contudo, além dos encontros semanais para trocas e entendimento sobre a complexidade do contexto social para expor as fragilidades incertas da criação, e ainda, revelar as camadas e narrativas de suas histórias, sem indagar a representatividade emocional de suas personagens, o jogo de cena entre o público e os atores, são complementares no desenvolvimento dramático. 

“Quando eu idealizei o projeto, não havia texto. Mas, o único elemento que eu tinha em mente era um corpo no chão. Nós começamos a trabalhar e trouxemos as nossas memórias e movimentos corporais para compor a escaleta desse lugar. É um espetáculo sobre vivências e para celebrar a vida, tanto a minha como a do Allan. Mas, também, costurado por ideias geracionais compartilhadas pela lembrança de cada um além das memórias. O público é despertado e convidado a ser cúmplice do espetáculo desde o início da apresentação”, revela Sant. 

Do metateatro às experiências performáticas, além da encenação, características do universo periférico são utilizados na cenografia e resplandecem com a iluminação assinada pela premiada Erica Mityko e a coreografia de Elber Tavares. Com sonoplastia do músico Renan Otah, a montagem transfigura a dramaticidade da sua própria encenação, principalmente pelo processo criativo despertado pelas provocações incitadas pela direção, bem como a narrativa estabelecida pelos atores e a concepção minimalista presente no figurino assinado por Mariah Kloss. 

Paralelamente ao espetáculo, será lançado o documentário sobre seu processo de criação, com direção de Luc da Silveira e Max Olsen. O público que for ao Teatro de Bolso, terá acesso ao QR Code para assistir ao documentário on-line. Além do depoimento de toda a equipe, o audiovisual vai apresentar o desenvolvimento da criação, com imagens exclusivas sobre a relação dos atores em cena e a amplitude desta vivência entre realidade, ficção, vida e arte.

“É muito simbólico fazer a estreia após o dia 13 de maio, que é o dia da abolição da escravatura. Eu conto no texto sobre a minha tataravó que nasceu depois da Lei do Ventre Livre, ou seja, antes da abolição. Fazer esse trabalho neste momento, é uma outra forma de contar essa passagem. Ou seja, o espetáculo fala sobre existir e resistir, com provocações entre o tempo-espaço de corpos que estão sobrevivendo”, finaliza Sant. 

O projeto é realizado com recursos do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura – Fundação Cultural de Curitiba e Prefeitura Municipal de Curitiba – e do Ministério da Cultura/Governo Federal.


Serviço:

Um Corpo Preto no Chão 

Teatro de Bolso (Rua Itupava, 1.299 – Hugo Lange)

De 14 e 25 de maio – quarta-feira a sábado, sempre às 20h; domingos, às 19h.

Entrada gratuita, com retirada de ingressos em https://meaple.com.br/teatrodebolso 

Classificação: livre 


Crédito da foto: Luc da Silveira